sexta-feira, 13 de julho de 2012
De rei a cão sarnento
Demóstenes,
porém, não é só um rei a mais no castelo de cartas que começou a ruir em 29 de
fevereiro, com a prisão de Cachoeira e a profusão de fitas. É um rei muito
especial. Quanto mais alto, maior é o tombo. Demóstenes desabou do trono
"Cai o rei de espadas, cai o rei de ouros, cai o
rei de paus, não fica nada", dizia Ivan Lins nos anos 1970, repetiu ontem
Demóstenes Torres, o segundo senador cassado pelos seus pares em 188 anos.
Estava sendo contraditório. Se ele é "bode expiatório", como
diz, não vai cair mais nenhum rei, nem de ouros nem de paus. Tudo como
dantes.
Ontem mesmo, a Câmara começou a inocentar os deputados
envolvidos de alguma forma nesse esquemão do Cachoeira que inundava o
Centro-Oeste e respingava em toda parte. Só sobrou o tucano Carlos Alberto
Lereia para contar a história - e ser julgado pelo Conselho de Ética. Por Eliane Cantanhêde - Folha de São Paulo
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| DORA KRAMER |
Como procurador, foi presidente do Conselho Nacional dos
Procuradores Gerais de Justiça. Como senador, presidiu a poderosa Comissão de
Constituição e Justiça. Filiado ao DEM, era líder do partido no Senado e
potencial candidato a vice-presidente da República.
E, como arauto da ética e da moralidade, conquistou respeito
e simpatia até mesmo no Supremo e na imprensa. Mas, ao ser cassado, era um ser
absolutamente solitário -"cão sarnento". Tudo tinha, nada tem.
Se Renan, Sarney, ACM e Jader tiveram suas tropas de choque,
Demóstenes morreu só e seu enterro foi sem choro nem vela. Nem ira nem
comemoração, só silêncio. Desolador.
Demóstenes se vai e a CPI tende a ir atrás da campanha
municipal, de palanques e holofotes, já que "a justiça foi feita" e o bode já
expiou sua culpa. O resto? Deixa a polícia fazer. Reis, rainhas, cavalos e
torres vão continuar deslizando em segurança no tabuleiro, até surgirem outros
Demóstenes, outros Luiz Estêvão. Vai demorar. Caiu uma peça, vem o suplente aí.
E o jogo continua.
V.S.


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