domingo, 8 de julho de 2012
Tramoias petistas orientam o Itamarati
Percival Puggina
![]() Se existe área de ação do governo onde o PT faz o que bem entende é nas nossas relações internacionais. Não há gesto, declaração, evento, pacto que não reflita a nostalgia dos tempos de política estudantil daqueles que hoje comandam o país. Quando as coisas não vão tão mal, as estratégias parecem secundaristas; quando é para nos rachar a cara de vergonha, o estilo piora e lembra conchavos e bastidores de congresso da UNE. É nisso que dá confiar coisas sérias ao comando de moleques. O que aconteceu nessa vergonhosa reunião de Mendoza vai entrar para a história da diplomacia brasileira como coroamento de um período em que o Itamarati esteve a serviço das idiossincrasias ideológicas de um partido. Quanto descaramento! Numa mesma conferência do Mercosul, suspendeu-se o país-membro Paraguai (cujo senado vetava o ingresso da Venezuela no bloco) e admitiu-se como país-membro a Venezuela. Sai aquele como punição por haver afastado o camarada Lugo e acolhe-se este baluarte da democracia continental que é o camarada Chávez. Doravante, teremos o Mercosul acaudilhado, patrulhado por um Simón Bolívar de ópera bufa, inimigo figadal do livre comércio. Todos sabemos: não é a Venezuela nem são os venezuelanos que entram. Quem entra é Hugo Chávez.
O Itamarati vem sendo dirigido como braço da
Secretaria de Relações Internacionais do PT, a serviço de seus alinhamentos
automáticos. Colocamo-nos - é a nação que vai junto - ao lado de qualquer Estado
ou organização política que puxe para a canhota e chute o balde de tudo que
esteja do outro lado. Quando essas coisas começaram, já vai para dez anos,
pareciam arroubos de aprendizes entusiasmados. Hoje, tais comportamentos
institucionalizaram-se. Nossas relações internacionais deixaram de ser questões
de Estado para se tornarem assuntos do governo (o que já seria grave) conduzidas
pelos gostos e desgostos da sigla que dirigente. Política internacional não é
assunto para partido.
O que afirmo nada tem a ver com meus sentimentos
em relação ao petismo. Não se trata, aqui, de simpatia ou antipatia. É a
política externa brasileira que não pode ficar sujeita às antipatias e simpatias
da legenda governante, ora essa! Mesmo no contexto da maçaroca institucional que
fazemos ao fundir Estado e governo, entregando-os a uma mesma pessoa, o
aparelhamento partidário e a instrumentalização ideológica do Itamarati nunca
fizeram parte da nossa tradição.
Agora, constrangidos, vemos nosso país
prestar-se para a patacoada de Mendoza, onde voltamos a intervir em questão
interna de uma nação do bloco; onde proclamamos que a camaradagem com Lugo é
mais sólida do que nossa amizade e parceria com o povo paraguaio; e onde
evidenciamos que a suspensão do Paraguai foi uma tramoia a serviço não do
Mercosul, mas do PT, da Unasul, do Foro de São Paulo e dos delírios
chavistas.
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* Percival Puggina (67) é arquiteto, empresário,
escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero
Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.
FONTE: V.S. 08/07/2012
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